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DOM MARACUJÁ

DOM MARACUJÁ
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A História da História

Um pequeno livro de capa dura marcou minha infância. Pertencia à Coleção Folclore Brasileiro, da Editora do Brasil, com adaptação de J. Pimentel Pinto. Chamava-se O Papagaio Real e Outras Estórias, no tempo em que ainda se diferenciava na escrita estórias e histórias. Mas eu só fui me lembrar disso muitos anos depois quando minha mãe encontrou o volume amarelado, a borda rasgada. E a infância foi se recontando ali, a cada página guardada. E a cada espirro também, por causa do cheiro de mofo!

É curioso que em nenhum momento Dom Maracujá aparece, apenas os outros personagens são ilustrados com expressões de susto, como se o Papão estivesse do lado de fora do livro e pudéssemos conhece-lo somente através dos olhos apavorados daqueles que o estão vendo. Arte de grande sabedoria, pois o ilustrador abre espaço para que Dom Maracujá apareça na tela de dentro: a imaginação de cada leitor ouvinte. Bem mais tarde, encontrei a variante recolhida por Henriqueta Lisboa em Literatura Oral para Infância e a Juventude: lendas, contos e fábulas populares no Brasil. E também as versões registradas por Marco Haurélio: “A cobra Sucuiú”, em O Príncipe Teiú e outros contos brasileiros, e “O bicho Tuê e o grilo”, no livro Contos e Fábulas do Brasil.

Assim como “O Caso do Bolinho” e “Zabelinha Zabelão”, o conto é mais um ótimo exemplo daquilo que as crianças batizaram como histórias de engolir. A temática do monstro devorador e do herói engolido pertence à simbologia dos ritos de passagem, tratando da travessia do herói pelo véu que separa o conhecido do desconhecido. O retorno ao princípio, ao interior da barriga, fazendo renascer o homem novo, transformado. Nessas horas, é comum ouvir a aflição das crianças perguntando: Mastigou? O fato de o herói não ter sido mastigado é a garantia de que, mais cedo ou mais tarde, renascerá inteiro da barriga que o engoliu, o que devolve certo alívio a todos que estão lá, na boca do medo da história. Em “Dom Maracujá”, o medo aparece fantasiado de Papão. E a coragem tem nome: Grilo Tranquilo. Ou Grilo Ninja, no dizer das crianças.

Certa vez contei a história em uma escola e o Nem-te-ligo do grilo viralizou entre os alunos. Dias depois, houve a queixa de uma mãe: Quem é a professora nova de cabelo comprido e ruivo que ensinou funk obsceno para meus filhos? Mistério desvendado: a professora era eu e o funk era a cantiguinha do grilo. Pensamento I: acho que exagerei no totalizante de cabelo. Pensamento II: a comunicação entre famílias e escolas pode virar um telefone sem fio, assustador como Dom Maracujá. Pensamento III: nem te ligo! Não é que me deram uma boa ideia? Assim nasceu, para completar a ligação, o "Funk do Grilo Ninja"!  

 

Ficha técnica

Dom Maracujá 

Vinheta 

"Celular ultra mega espontânea" (Guilherme Sapotone e Cristiane Velasco)

Edição de falas espontâneas das crianças durante gravação. Uma metáfora natural da aceleração do tempo adulto interrompendo o Tempo sem tempo das brincadeiras de crianças.

Com:

João Tenucci, João Pedro, Clara e Alice.

Conto popular brasileiro adaptado por Cristiane Velasco.

 

Com:

Cristiane Velasco: voz.

Amanda Ferraresi: violoncelo.

Guilherme Sapotone: voz.

Crianças: João Tenucci, João Pedro, Clara, Alice e Tomé.

Música:

"Funk do Grilo Ninja" (Guilherme Sapotone e Cristiane Velasco)

Guilherme Sapotone: Arranjos de base e voz.

Cristiane Velasco: voz.

Amanda Ferraresi: violoncelo.

Com:

Tomé.

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